Perfumes
1876 - Mata Hari
1876 - Mata Hari
Histoires de Parfums é uma marca que tem como conceito básico a elaboração de fragrâncias inspiradas em figuras históricas. 1876, cujo nome evoca o ano de nascimento da legendária Mata-Hari, poderia servir de biografia olfativa a notória dançarina. Sendo assim, antes de analisarmos o perfume, entraremos no mundo de uma das mulheres mais polêmicas do século XX.
O personagem - Margaretha Geertruida Zelle nasceu no dia 7 de agosto de 1876, filha do próspero comerciante de chapéus Adam Zelle, e de sua esposa Antje van der Meulen, em Leeuwarden, Holanda.
Depois de anos de fartura, Adam Zele conheceu tempos difíceis, vindo a declarar falência em 1889, e abandonando a família pouco depois. Margaretha, sua mãe e seus irmãos viram-se forçados a morar em um pequeno apartamento. Em maio de 1890, Antje falece e seus filhos separam-se.
Após uma breve passagem por uma escola normal, de onde foi expulsa por ter sido o objeto dos amores do diretor, Margaretha muda-se para the Hague. Um anúncio publicado em um periódico local chama sua atenção. As poucas linhas escritas solicitavam candidatas ao posto de esposa de um oficial das forças armadas holandesas nas Índias Orientais, Rudolph MacLeod. Margaretha, 19 anos, e Rudolph (também conhecido como John), 20 anos mais velho, encontram-se em março de 1895, e casam-se seis meses mais tarde. Em janeiro de 1897, nasce o primeiro filho de ambos, Norman-John, e em maio, a família muda-se para Java. Em 2 de maio de 1898, Jeanne Louise vem ao mundo, sendo logo apelidada de Non (abreviação da palavra malaia "nonna", que significa "menininha").
O casamento foi tumultuoso, marcado pelo temperamento difícil de Rudolph, e pelo falecimento do pequeno Norman-John, de pouco mais de dois anos, vítima de envenenamento por parte de um dos empregados. Rudolph, dilacerado pela dor, acusava freqüentemente Margaretha de desatenção, incutindo a culpa pela morte do primogênito. A situação torna-se intolerável, e em agosto de 1902, pouco depois do retorno a Holanda, Margaretha pede o divórcio, obtendo a guarda de Non, e uma pensão mensal. Contudo, Rudolph nunca cumpriu com suas obrigações financeiras, e, aproveitando uma das visitas da filha, separou-a de Margaretha. Mãe e filha viram-se somente uma vez a mais, na estação ferroviária de Arnhem, em 1905.
Aos 26 anos, sem família, sem dinheiro e isolada socialmente, Margaretha decide mudar-se para Paris. Trabalhando como modelo artístico, e estudando dança, o esboço de uma nova personalidade começa a ser traçado. No dia 13 de março de 1905, no Museu Guimet, Margaretha apresenta-se como dançarina indiana, adotando um nome de cena malaio, traduzido literalmente como "olho do dia", mas significando "sol". Nasce Mata-Hari.
Mata-Hari conheceu grande sucesso na Paris da época, chegando mesmo a brilhar no teatro Olympia. A popularidade crescente proporcionou um outro nível de vida, e diferentes relações amorosas, como Arich Kiepert, em 1906, rico proprietário de imóveis em Berlin, ou o banqueiro conhecido como Rousseau, que instalou-a no Chatêau de la Dorée.
O início da década de 1910 conheceu o apogeu de Mata-Hari, que, em 1914, viaja para Berlin a fim de apresentar-se no teatro Metropol, e encontrar-se com seu antigo amante, Kiepert. Estoura a primeira Guerra Mundial.
Em 1916, Margaretha retorna a Paris e apaixona-se pelo capitão russo Vadime de Massloff, aceitando a proposta do mesmo de espionar para a França. No dia 13 de fevereiro de 1917, Margaretha é capturada no Elysées Palace Hotel, sendo levada para a prisão Saint Lazare, sob acusação de dupla espionagem. Na fria segunda-feira de 15 de outubro de 1917, Margaretha Zelle foi fuzilada, e o mito Mata-Hari entrou para a posteridade.
O perfume - Dentre todas as flores, acredito que a rosa é a mais perfeita para simbolizar Margaretha Zelle. E é justamente em torno da rosa que desenvolve-se 1876. Cada etapa de evolução do perfume parece lembrar um período da vida de Margaretha.
A abertura conjuga força e singeleza com a bergamota, a mandarina e uma tímida nota de lichi sugerindo o frescor da juventude daquela que procurou no casamento segurança e estabilidade. Ao viço inicial, junta-se um certo romantismo, com a entrada em cena da rosa. Porém, a luminosidade juvenil dura pouco, e a uma nota de cominho e canela une-se a rosa, insinuando o exotismo da vida em Java. As cores e temperos da ilha estão aqui representados.
O caráter exaltado da associação entre rosas e especiarias é logo apaziguado pelo requinte da violeta, da iris e do cravo. Exotismo e elegância - Margaretha transforma-se em Mata-Hari.
A violeta faz-se cada vez mais presente, enquanto o cominho perde o poder. A fase final é uma bela simbiose entre rosas e violetas em um fundo de vetiver, sândalo e madeira guaiac. As especiarias ainda estão presentes, mas distantes, ao fundo. Essa
grande finale é a minha etapa predileta, onde a extravagância do cominho e da canela é finalmente vencida pela sofisticação da violeta. Uma harmonia que poderia ser traduzida pelo cenário
Art-Nouveau do antigo Elysées Palace Hotel, a bela construção de Georges Chedanne (103,
avenue des Champs-Elysées) que serviu de última residência a Margaretha Zelle.
A linguagem olfativa da rosa é definida pela dualidade entre força e delicadeza. Uma elegância contida, que nunca se revela completamente, como Margaretha Zelle... E como Mata-Hari.
Ilustrações ~primeira à direita - casamento de Margaretha Zelle e Rudolph MacLeod (Griet e John), em 11 de julho de 1895 - Amsterdan (Coleção Mata-Hari, Fries Museum Leeuwarden)
~ primeira à esquerda - Mata-Hari, Paris - 1905
~ segunda à direita - Mata-Hari no Les Folies Bergère, em 28 de junho de 1913
~ segunda à esquerda - 1876, de Histoires de Parfums - fonte: Histoires de Parfums
~ terceira à direita - 103, Avenue des Champs-Elysées, antiga localização do Elysées Palace Hotel. O prédio, construção de Georges Chedanne, serve atualmente de endereço para o banco HSBC.
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